Crianças e internet: uma relação delicada
Crianças e internet: uma relação delicada.
Sempre que o assunto mistura dois temas aparentemente antagônicos – como infância e mundo digital –, os adultos se dividem basicamente em três grupos.
- Há aqueles que enxergam os riscos existentes na web – que são reais – por meio de lentes de aumento e simplesmente proíbem o uso pelas crianças.
- Há aqueles que acreditam que as coisas ruins só acontecem com os outros e simplesmente liberam totalmente – às vezes, no limite da negligência.
- E há aqueles que ensinam seus filhos e filhas a se proteger dos riscos para poderem aproveitar os benefícios desse vasto mundo de conhecimento digital.
O nosso texto de hoje vai se dedicar a trazer você, pai e mãe que nos lê, para o terceiro grupo.
Vamos mostrar por que é importante permitir o acesso das crianças à internet, os riscos mais comuns a que elas estão expostas, de que forma você pode orientar crianças e jovens para que naveguem com segurança e os benefícios que elas podem alcançar com uma relação segura e saudável com a internet.
Boa leitura.
Por que é importante permitir
A nossa sociedade é cada vez mais conectada. Não existe hipótese de esse movimento se reverter na direção de uma sociedade analógica como a que tínhamos até os anos 1990, quando a internet chegou ao Brasil.
Para que possam exercer de forma plena seus direitos civis, políticos, culturais, econômicos e sociais, nossas crianças e adolescentes precisarão desenvolver as habilidades necessárias para consumir as informações disponíveis na internet de forma reflexiva, para se expressar com responsabilidade, e assim participar ativamente da sociedade conectada.
Quem defende isso é o Comitê sobre Direitos da Criança da Organização das Nações Unidas (ONU). Em 2021, o CDC recomendou internacionalmente o combate ao que chamou de “abismo digital” que separa crianças e jovens com e sem acesso à internet.
Para o CDC, o acesso à internet deve ser visto como um direito das crianças.
O não atendimento desse direito, ainda segundo o órgão, vai reduzir as oportunidades das crianças que não tiveram acesso à rede e gerar ainda mais desigualdade no mundo.
Os riscos da internet
Ninguém está, com isso, fechando os olhos aos riscos que a internet oferece para crianças e jovens.
Eles chegam cada vez mais cedo à rede, sem a maturidade necessária para navegar com segurança nesse ambiente.
As ameaças existem e são conhecidas de todos. Entre as mais óbvias estão a desinformação, os discursos de ódio, o bullying digital – também chamado de cyberbullying – o sexting e o assédio.
Existem outros, porém, que não são tão evidentes como o rastro digital deixado pelas crianças na navegação, com exposição de dados.
Aquela velha máxima que acompanha a internet precisa ser ensinada a toda criança e jovem: quando o serviço oferecido (game, rede social, vídeo etc.) é de graça, o produto é você.
De que forma orientar seu filho ou filha
O princípio para prevenir os riscos da internet passa pela informação para a redução de danos. Uma criança que conhece os riscos envolvidos e aprende com os pais e mães sobre como eles funcionam, tem mais chances de evitar esses golpes.
Por mais constrangedor que possa parecer falar sobre alguns temas, é fundamental abordá-los com seu filho ou filha para que ele ou ela possa navegar com maior segurança.
Alguns conceitos práticos que você precisa ensinar a seu filho ou filha são:
– Não existe informação privada na internet. Uma vez publicada na rede, a informação se torna pública, mesmo que a criança ache que está enviando apenas para um amigo ou amiga.
– É muito difícil remover informações que foram para a rede, sejam elas fotos, vídeos ou textos. Não compartilhe nada de que possa se arrepender depois.
– Nenhum bloqueio, senha ou cadeado é totalmente seguro. Hackers mal-intencionados podem burlar sistemas de segurança e fazer uso dos seus dados.
– Nunca compartilhe ou exiba imagens íntimas, com pouca roupa ou fotos sensuais.
– Toda imagem pode ser manipulada. Lembre disso antes de compartilhar.
– Pelo mesmo motivo, não aceite pedidos de estranhos para conversas com câmeras.
– Cancele pessoas agressivas nas redes.
– Não aceite convites para se encontrar presencialmente com “amigos” virtuais. Avise seu pai ou sua mãe sempre que receber convites desse tipo.
– Denuncie conteúdos impróprios que você, porventura, receba.
– Não compartilhe mensagens de ódio contra grupos e pessoas e denuncie quem as envia.
– Verifique sempre a veracidade das informações antes de compartilhá-las, mesmo que as tenha recebido de pessoas conhecidas, que você admira e em quem confia. Todos estão sujeitos a ser enganados.
Os benefícios da internet
Quando a delicada relação com a internet é bem construída, a família toda passa a poder desfrutar dos benefícios de se saber navegar de forma segura.
Entre esses benefícios que a criança conquista, é possível listar:
- O aumento da aprendizagem significativa, proporcionada pelo uso de diversos recursos de mídia;
- Desenvolvimento da capacidade crítica, que ajuda crianças e jovens a saber quando desconfiar da origem das informações e como checar a veracidade;
- Autonomia na aquisição do conhecimento, por meio do uso de mecanismos de busca para construir o próprio aprendizado;
- Ampliação da capacidade de adaptação a novas ferramentas digitais;
- Habilidade de recorrer ao ambiente de informações virtuais para solucionar problemas da vida real;
- Construção de uma visão de mundo mais plural, ampliando a capacidade de ouvir e debater de maneira serena diferentes pontos de vista;
- Desenvolvimento de uma cultura da aprendizagem constante, em relação com as transformações diárias do ambiente digital.
Em resumo, o que você estará fazendo ao construir essa relação de seu filho com a internet é um pouco do que vem sendo chamado de Educação Midiática.
Para encerrar
Uma última sugestão se refere ao tempo de uso. Lembra daquela máxima da sua avó, ainda no tempo da sociedade analógica, que dizia que nada em excesso é saudável?
Pois então, essa regra continua válida.
Regule o tempo de acesso do seu filho ou filha na rede e administre esse tempo de acordo com a idade. Os especialistas recomendam que nenhuma criança até 4 anos de idade deve ser exposta às mídias digitais.
Quando elas iniciam, é importante que o uso seja limitado e supervisionado por um adulto responsável. E conformem amadurecem, esses limites e a forma de supervisão podem ser ampliados e flexibilizados gradativamente.
Se quiser aprender mais sobre Educação Midiática, visite o site do programa Educamídia, uma iniciativa dedicada a engajar a sociedade no processo de educação midiática de crianças e jovens.
Antes de ir embora, leia também:
Crianças na Internet: 3 pontos para se ficar atento
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