Como falar sobre suicídio com crianças e adolescentes
O aumento nos casos de suicídio entre crianças e adolescentes no Brasil é um tema alarmante que exige nossa atenção e ação. Segundo dados da Fiocruz, de 2011 a 2022, a taxa de suicídio entre jovens de 10 a 24 anos cresceu 6% ao ano, e as notificações de autoagressão aumentaram 29% ao ano no mesmo período. Esses números mostram a urgência de abordar o assunto de maneira aberta e cuidadosa. Mas como falar sobre suicídio com jovens de forma que promova compreensão e prevenção?
Por que é importante falar sobre suicídio?
Ignorar ou evitar o tema do suicídio pode levar a mal-entendidos e ao aumento de estigmas, impedindo que os jovens falem sobre seus sentimentos. Segundo a educadora parental Bete Rodrigues, o primeiro passo é não esconder deles o que está acontecendo. É essencial criar um ambiente de diálogo aberto onde eles se sintam seguros para expressar suas emoções. Mesmo que o assunto seja delicado, é possível abordá-lo sem entrar em detalhes gráficos ou assustadores, mas deixando claro que é um tema importante a ser discutido.
Como abordar o tema com crianças e adolescentes
1. Adapte a conversa à idade da criança: para crianças mais novas, que ainda não compreendem totalmente o conceito de morte, é importante primeiro introduzir o que é a morte de uma forma simples e acessível. Entre 7 e 9 anos, elas começam a entender a irreversibilidade da morte. Antes dessa idade, você pode explicar que a pessoa estava muito triste ou doente e foi descansar, sem entrar em detalhes sobre o suicídio.
2. Seja direto, mas sensível, com adolescentes: quando o jovem já entende o que é a morte e está ciente de um suicídio, seja claro sobre o que aconteceu, mas explique que a pessoa não encontrou suporte adequado para lidar com seu sofrimento. Enfatize que o suicídio é uma forma negativa de lidar com a dor e que há outras maneiras de buscar ajuda e lidar com emoções difíceis.
3. Use uma linguagem apropriada e acessível: a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) recomenda o uso de linguagem simples e clara, evitando termos técnicos que possam confundir ou assustar. A ideia é ser honesto e compassivo, permitindo que a criança ou adolescente compreenda a seriedade do tema sem se sentir sobrecarregado.
Estratégias para promover o diálogo e a prevenção
● Fomente um ambiente de confiança: incentive os jovens a falarem sobre seus sentimentos e deixe claro que não há problema em pedir ajuda. Explique que todos podem enfrentar momentos difíceis, e que conversar com um adulto de confiança pode ser um passo importante para encontrar soluções saudáveis.
● Identifique sinais de alerta: esteja atento a sinais que podem indicar sofrimento emocional ou risco de suicídio, como mudanças abruptas de comportamento, isolamento social, expressões de desespero ou doação de pertences. Conhecer bem o seu filho ou aluno é fundamental para perceber essas mudanças.
● Eduque sobre saúde mental: falar sobre saúde mental de forma aberta pode desmistificar o tema e ajudar a reduzir o estigma. Use recursos como os programas de desenvolvimento socioemocional do Programa MenteInovadora da Mind Lab, que promovem habilidades como resiliência, autoconsciência e empatia, fortalecendo a capacidade dos jovens de lidarem com suas emoções.
● Promova a busca de ajuda profissional: caso um jovem manifeste ideação suicida ou sinais de depressão, é crucial buscar ajuda de um profissional especializado, como um psicólogo ou psiquiatra. Além disso, incentivar a participação em programas de prevenção de suicídio pode ser uma medida eficaz para proporcionar suporte adicional.
Estratégias após um incidente de suicídio
Existem três tipos de estratégias que podem ser aplicadas após um incidente de suicídio em uma comunidade ou escola:
1. Estratégias universais: aplicadas em uma escola inteira ou comunidade, essas estratégias incluem a promoção da saúde mental e o incentivo à busca de ajuda, além de melhorar o ambiente escolar para reduzir o estresse.
2. Estratégias seletivas: focadas em grupos específicos, como jovens que já estão em tratamento de saúde mental ou que enfrentam estigmatização e desafios sociais. Essas estratégias são mais direcionadas e buscam oferecer suporte específico.
3. Estratégias individuais: voltadas para indivíduos que são percebidos como de maior risco, essas intervenções são personalizadas para atender às necessidades particulares de cada jovem.
Como criar um ambiente seguro para discutir o suicídio
O diálogo aberto e honesto sobre suicídio e saúde mental é fundamental para a prevenção. Manter um equilíbrio entre falar sobre o tema e evitar detalhes sensacionalistas é crucial para reduzir o risco de contágio e aumentar a conscientização. Educar crianças e adolescentes sobre como buscar ajuda e falar sobre seus sentimentos pode salvar vidas e promover um ambiente mais saudável e compreensivo. Ao integrar práticas de desenvolvimento socioemocional e buscar apoio quando necessário, podemos ajudar a construir uma sociedade mais forte e resiliente.
Onde buscar ajuda?
Existem vários recursos disponíveis para quem precisa de apoio:
● CVV (Centro de Valorização da Vida) – Oferece atendimento gratuito e confidencial 24 horas por dia pelo telefone 188 ou pelo site www.cvv.org.br.
● Rede de Atenção Psicossocial – Unidades de atendimento especializadas em saúde mental, disponíveis pelo SUS.
● Mapa Saúde Mental – Plataforma que mapeia diversos tipos de atendimento psicológico e psiquiátrico pelo Brasil (www.mapasaudemental.com.br).
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