Como lidar com perguntas inesperadas?
De repente, no meio de uma refeição em família, quando você menos espera, cai do céu uma bomba na forma de uma pergunta inesperada: “Mamãe, você faz sexo com o papai?”
Lidar com situações como essa fazem parte da parentalidade. E nossas reações serão determinantes na construção dos conceitos que nossos filhos e filhas terão sobre relacionamento, sexo, comunidade LGBTQIA+ e outros temas que muitas vezes se transformam em tabus na sociedade. Afinal, nós, como pais e mães, somos as principais referências de nossos filhos e filhas.
No nosso texto de hoje, vamos explicar porque é necessário falar sobre esses temas dentro de casa, quando começar a abordar o assunto, como você deve reagir e conduzir a conversa, e vamos desmistificar o principal medo de pais e mães relacionados a esse tipo de conversa com os filhos. Você sabe qual é esse medo? Siga nosso texto até o final e veja se você acertou.
Boa leitura.
Por que é importante falar sobre sexo com seu filho ou filha?
Os especialistas são unânimes: a educação sexual de crianças e jovens deve começar em casa.
Afinal, é lá que estão os adultos – pais e mães – mais confiáveis em termos de transmissão de informações de qualidade e mais interessados em orientar corretamente as crianças e jovens.
Para a Organização das Nações Unidas, a ONU, a educação sexual é fundamental no combate à violência sexual, ao abuso sexual e à gravidez na adolescência. Posição que é corroborada pela Sociedade Brasileira de Pediatria.
O psiquiatra Jairo Bouer, especializado em educação sexual, afirma que a falta de informação no Brasil contribuiu para os altos índices de transmissão de HIV entre jovens e adolescentes, e de gravidez precoce indesejada.
Em entrevista à BBC Brasil, ele alertou também para o risco que o acesso à internet traz nesse tema: “Hoje, crianças e adolescentes podem pesquisar suas dúvidas na internet ao invés de perguntar aos pais. Por isso, de modo geral, vejo que as crianças se deparam mais cedo com o tema da sexualidade. O problema não é buscar a informação, e sim se deparar com informações erradas e inadequadas para cada fase de desenvolvimento da criança.”
Isso só amplia a importância de pais e mães assumirem o papel de protagonistas da educação sexual dos filhos.
Quando começar a abordar o assunto
A consciência de que é importante falar sobre esses temas com seu filho ou filha deve vir acompanhada da noção de que você não deve, de forma alguma, bombardear a criança com informações sobre o tema.
Segundo os especialistas, o ideal é estar sempre atenta(o) para aproveitar oportunidades e brechas abertas pela própria criança. Justamente as tais “perguntas inesperadas”.
Quando a conversa se inicia a partir da curiosidade trazida pela criança, a explicação ganha efetividade. E as informações não precisam ser despejadas de uma única vez. O mais indicado é que sejam introduzidas aos poucos, a partir de cada nova oportunidade.
É fundamental, porém, que o tema seja mantido em pauta. Uma única conversa não resolve todas as dúvidas sobre sexo e relacionamento que seu filho ou filha possa ter.
Um estudo em inglês do Journal of Adolescent Health mostrou que, para serem efetivas, as conversas devem ser frequentes e os pais devem se preocupar em fazer com que a criança se sinta ouvida e confortável, sem vergonha para perguntar.
O doutor Jairo Bouer defende que as conversas sejam iniciadas ainda antes dos 10 anos de idade, seguindo as dicas sobre adequação das informações à idade. Isso aumenta a chance de que, ao chegar à adolescência, nossos filhos tratem com mais naturalidade questões como virgindade, sexo seguro e gravidez na adolescência.
Como reagir e conduzir a conversa
A primeira providência que pais e mães devem adotar nessas conversas é tratar as questões com naturalidade, sem sustos e tabus.
Você deve estabelecer com seu filho ou filha uma dinâmica que reforce o seu papel como a fonte mais confiável de informações à qual ele ou ela pode recorrer para obter respostas. Isso vai fortalecer o vínculo entre vocês e deixar seu filho ou filha à vontade para trazer novas perguntas que surjam.
Na construção dessa relação de confiança, é importante que você deixe claro a seu filho ou filha quando não souber uma resposta. Explique que você também não sabe tudo e pesquisem juntos em fontes confiáveis. Ele ou ela vai se sentir seguro, além de aprender a também pesquisar em boas fontes de informação.
Os especialistas alertam também para a importância de que você não ultrapasse sinais, dando mais informação do que a criança precisa ou está pronta para entender.
Uma boa medida para garantir esse cuidado é deixar que as perguntas de seu filho ou filha guiem a conversa. Tente responder sempre, com respostas simples, limitadas ao que foi perguntado, e utilizando termos e palavras de fácil compreensão.
Tente também utilizar os termos corretos quando se referir a órgãos sexuais, evitando os famosos eufemismos que acabam ajudando a construir tabus. Nessa ótica, o pênis não é o “pipi”, e a vagina não é o “segredinho”.
Quando uma criança na primeira infância pergunta como o bebê foi parar na barriga da mãe, por exemplo, é importante dar a explicação correta. Use palavras simples, mas não caia na tentação de inventar histórias sobre cegonhas, repolhos, pérolas ou o que quer seja.
O mito a ser combatido
Infelizmente, ainda é muito comum entre pais e mães um temor de que conversas sobre sexualidade podem acelerar o início da vida sexual de crianças e adolescentes.
Esse é um mito a ser combatido.
Não existem evidências científicas de que isso aconteça. Pelo contrário.
Estudos realizados nos Estados Unidos por uma organização focada na prevenção à gravidez não planejada na adolescência indicam que a abertura para falar sobre o tema em casa forma adolescentes mais conscientes. De maneira geral, esses jovens costumam adiar sua iniciação sexual.
Leia também
Para saber mais sobre este tema, consulte outros textos do Educador360:
#PrecisamosFalarSobreIsso
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