Alienação parental: quando a mágoa afeta os filhos
Separar-se do pai ou da mãe dos filhos não é algo que ninguém imagina durante a gestação, mas sabemos que acontece. Nessas situações, uma nova dinâmica familiar precisa ser construída. Só que, em meio a dores e conflitos, os filhos continuam sendo o elo mais importante, e é justamente aí que mora o risco. Muitas vezes, atitudes ditas no calor da emoção acabam interferindo no vínculo da criança com o outro genitor. Esse fenômeno tem um nome: alienação parental.
O que é alienação parental
A alienação parental acontece quando um dos pais interfere na formação psicológica da criança, prejudicando a relação com o outro responsável. Isso pode se dar de forma explícita, como em frases do tipo “seu pai não liga para você” ou “só eu cuido de você”, mas também em gestos sutis, como um suspiro quando o nome do ex-companheiro é citado, ou um olhar de reprovação quando o filho conta algo vivido com ele.
Na prática, a criança sente que precisa escolher um lado. E esse peso, como explica a educadora parental Bete Rodrigues, é devastador: “A criança passa a se sentir perdida, como se fosse obrigada a decidir entre duas pessoas que ama. Ela não entende que pode e deve amar os dois.”
Riscos para o desenvolvimento
Esse tipo de comportamento gera consequências sérias:
- Ansiedade, insegurança e baixa autoestima;
- Dificuldades de relacionamento;
- Maior vulnerabilidade emocional;
- Confusão de identidade, já que rejeitar um genitor significa rejeitar parte de si;
- Perda da espontaneidade e do direito de viver plenamente a infância.
Quando a mágoa dos adultos toma espaço, a criança deixa de ser protegida para se tornar alvo de disputas que não compreende.
Sinais de alerta para os pais
- Você já disse que o outro genitor não ama ou não cuida da criança?
- Dificultou visitas, ligações ou encontros sem motivo real?
- Fez chantagem emocional para que o filho não quisesse ir para a casa do outro?
- Omitiu informações importantes, como reuniões escolares ou consultas médicas?
Se a resposta foi sim, mesmo que em apenas um ponto, é hora de repensar. A maioria dos pais não age por maldade, mas por frustração ou falta de informação.
Como prevenir e proteger os filhos
A boa notícia é que é possível mudar a rota. Algumas práticas ajudam a preservar o bem-estar das crianças:
- Separar conflitos conjugais da parentalidade: desavenças entre adultos não podem afetar a relação com os filhos;
- Evitar críticas e desqualificações: a criança precisa sentir que pai e mãe são figuras seguras;
- Facilitar o contato: ligações, visitas e convívio são essenciais para o equilíbrio emocional;
- Comunicar-se com respeito: mesmo quando o diálogo é difícil, a objetividade centrada na criança é fundamental;
- Buscar apoio: terapia individual, mediação familiar ou programas de educação socioemocional, como os propostos pelo Programa MenteInovadora, ajudam a fortalecer empatia e autocontrole.
O olhar da justiça
No Brasil, a Lei da Alienação Parental (Lei 12.318/2010) estabelece medidas legais contra essa prática. Dependendo da gravidade, o juiz pode advertir, multar ou até modificar a guarda. De acordo com o Conselho Nacional de Justiça, cerca de 4,5 mil processos de alienação parental são registrados por ano. Ainda assim, o tema é polêmico. Em países como Espanha e Colômbia, a lei foi proibida, sob o argumento de que poderia ser usada contra mães em processos de denúncia de violência.
Educação socioemocional como prevenção
O fortalecimento das competências socioemocionais é um caminho poderoso para evitar a alienação. Em casa, isso pode ser feito pelo diálogo aberto, pelo respeito ao tempo da infância e pela valorização do brincar. Na escola, professores também podem atuar como aliados, observando sinais e orientando famílias. No blog Vida Inovadora, há reflexões sobre como preservar a infância e apoiar o desenvolvimento integral.
A Mind Lab defende que o desenvolvimento socioemocional deve caminhar junto com a formação acadêmica. Quando ajudamos crianças a identificar sentimentos, lidar com frustrações e compreender pontos de vista diferentes, elas se tornam mais resilientes diante de contextos familiares difíceis.
Alienação parental não é apenas um problema jurídico, mas sobretudo um desafio afetivo. Cabe aos adultos cuidar de sua própria dor sem depositá-la nos filhos. Ao proteger a infância, com limites claros e respeito, pais e mães contribuem para que as crianças cresçam seguras, conscientes e preparadas para o futuro.
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