Adolescência: o que a série da Netflix pode ensinar aos pais
A minissérie britânica Adolescência, da Netflix, é mais do que uma ficção instigante sobre um crime cometido por um adolescente. Ela é um alerta. Em apenas quatro episódios, a produção nos leva a olhar para dentro de casa e refletir sobre a presença real que oferecemos aos nossos filhos, especialmente em tempos de hiperconexão digital e emocionalmente desconectada.
Jamie, o protagonista, é um menino de 13 anos acusado de matar uma colega de escola. Mas o que mais perturba não é o crime em si — é a frieza com que os outros adolescentes reagem à tragédia. A ausência de empatia, a naturalização da violência, o desinteresse pelo outro. E tudo isso acontece em um ambiente em que os adultos parecem… distraídos demais.
Quando o quarto do filho se torna um continente desconhecido
“Muitos pais acreditam que o quarto dos filhos é um espaço de conforto e segurança. Mas e se, na prática, for um território de isolamento? A série mostra que Jamie passava a maior parte do tempo trancado, consumindo conteúdos online, sem ser notado, escutado ou compreendido.” explica Bete P. Rodrigues, consultora educacional. O pai, interpretado por Stephen Graham, chega a admitir: estava sempre trabalhando, presente apenas no papel.
Essa é uma realidade mais comum do que se imagina. Não se trata de ausência por má vontade. Mas sim por um modelo cultural que ainda atribui às mães o papel do cuidado emocional e deixa aos pais a função de provedores.
Contudo, Adolescência nos mostra que essa divisão não é apenas injusta — ela é perigosa.
O que a série Adolescência pode ensinar aos pais?
1. Presença não é só estar junto — é estar disponível
Estar em casa não é suficiente. As crianças e os adolescentes precisam se sentir vistos, ouvidos e validados. Perguntar como foi o dia, perceber mudanças de comportamento, respeitar o silêncio, mas estar por perto, de verdade.
2. O afeto exige intencionalidade
Demonstre carinho, mesmo quando seu filho parecer distante. O adolescente que se fecha muitas vezes está gritando por dentro. A escuta sem julgamento é o caminho para que ele se sinta seguro para se abrir.
3. O que seu filho consome online importa — e muito
A série mostra como teorias perigosas, como a 80/20, podem moldar pensamentos e atitudes. Acompanhe de perto o que seu filho vê, jogue com ele, assista aos vídeos que ele gosta, converse sobre o que aparece nas redes. Não é controle, é cuidado.
4. As emoções dos filhos precisam de espaço
Ajude seu filho a nomear sentimentos, a entender que raiva, tristeza, medo e frustração são naturais. Explique que pedir ajuda é um ato de coragem.
5. Educar emocionalmente é tarefa compartilhada
A escola tem um papel essencial, mas a base vem de casa. E programas como o MenteInovadora, da Mind Lab, podem apoiar esse processo ao desenvolver empatia, escuta ativa e autoconhecimento desde a infância. Quanto mais cedo, melhor.
Como conversar sobre a série Adolescência com seu filho
Se ele já viu a série, pergunte o que achou. Se ainda não viu, assistam juntos — e façam pausas para conversar. Aqui vão algumas perguntas que podem guiar o diálogo:
- O que você achou das atitudes dos meninos?
- O que teria feito diferente se fosse o Jamie?
- Você já ouviu falar da teoria 80/20? O que você pensa sobre isso?
- Como você se sente quando está sozinho(a)?
- O que você gostaria que os adultos entendessem melhor sobre os adolescentes?
A grande lição: não espere que seu filho peça ajuda
Nem toda dor grita. Às vezes, ela se mascara em silêncio, em respostas curtas, em portas fechadas. A série Adolescência nos lembra que é no cuidado cotidiano, nas pequenas perguntas e na escuta atenta que os vínculos se fortalecem.
Romper o silêncio começa com um gesto simples: estar ali. De verdade.
#PrecisamosFalarSobreIsso
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